quarta-feira

Maioria dos bipolares recebe tratamento errado no Brasil


Três anos se passaram até que o técnico em eletrônica Alexandre Vilaça, de 36 anos, descobrisse sua bipolaridade. Antes disso, foi diagnosticado com depressão, uma falha na identificação da doença que acomete 66% dos pacientes brasileiros com transtorno de humor bipolar, distúrbio psiquiátrico caracterizado por flutuações de humor em que o indivíduo alterna fases de hiperatividade com períodos depressivos.

Quando erroneamente diagnosticados, muitos pacientes bipolares são medicados com antidepressivos, o que pode piorar ainda mais o quadro psiquiátrico. “Nestes casos, os medicamentos fazem com que o paciente fique agitado e instável, prejudicando muito o relacionamento interpessoal, familiar e profissional dessas pessoas”, diz o psiquiatra Diogo Lara, professor da Faculdade de Biociências da PUC - RS e coordenador do Ambulatório de Bipolaridade do Hospital São Lucas. Segundo ele, confusões e erros de diagnóstico ocorrem principalmente com os pacientes bipolares do tipo II, que não costumam ter os episódios de mania (hiperatividade) e depressão bem marcados. As fases de prostração predominam - daí a confusão com os quadros puramente depressivos.

Para mudar essa situação, os médicos defendem uma atualização nos critérios de diagnóstico do distúrbio, que são de 1994. O objetivo é que a nova edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - 5), editado pela Academia Americana de Psiquiatria e usado como referência mundial na área, inclusive no Brasil, traga elementos que permitam o diagnóstico precoce dos pacientes com transtorno bipolar. Na maioria das vezes, a doença é confundida com depressão, como no caso de Vilaça. Cada fase do humor bipolar pode durar meses e, geralmente, é apenas no ciclo depressivo que o paciente busca ajuda.

A falta de medicação específica contra a bipolaridade é prejudicial porque acentua a morte das células cerebrais. Além disso, os pacientes ficam mais sujeitos ao abuso de álcool e outras drogas. “Quanto mais tardiamente o indivíduo for tratado, mais perdas neuronais vão ocorrer”, diz Giuliana Cividanes, mestre em psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo. Com base em sua experiência clínica, ela diz que as pessoas demoram de 10 a 15 anos para se conscientizar sobre a doença e, então, iniciar o tratamento.

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